Após novembro recorde, Real ainda tem espaço para ganhos, mas a depender de panorama fiscal

Impulsionado pelo bom clima no exterior, o real terminou seu melhor mês de novembro já registrado, provocando uma forte correção de posições negativas na divisa brasileira. Com isso, analistas afirmam que o cenário para o começo do ano segue pautado pelos desenvolvimentos externos, mas ainda suscetível às intempéries domésticas relacionadas à política fiscal.

O real apreciou 7,32% em novembro ante o dólar, segundo melhor desempenho entre as principais divisas emergentes, atrás apenas do peso colombiano (+7,6%). Mas é preciso contextualizar que a moeda brasileira vinha de três quedas mensais consecutivas, período em que perdeu 9,06%. Nos 11 primeiros meses do ano, a divisa caiu 24,95%. Em 2020 até outubro, a queda era de 30,07%.

Tamanha desvalorização deixa o real preparado para um “catch up” ante seus pares –algo em parte visto já em novembro. Rand sul-africano (-9,3% em 2020), rublo russo (-18,9%) e peso mexicano (-5,9%), por exemplo, caem no ano menos que seu par brasileiro. O índice MSCI de moedas emergentes vai na contramão e sobe 1,76% (dado até 27 de novembro), amparado por moedas da Ásia.

O Goldman Sachs fez um exercício econométrico e concluiu que o real está entre as moedas com maior potencial de valorização em um cenário de continuidade da recuperação cíclica, bom desempenho das commodities e boa performance da China.

“O real é notável não apenas por seu potencial significativo de alta em um ‘bom estado do mundo’, mas também por seu desempenho significativo no acumulado do ano”, disseram analistas do Goldman.

Um dos pontos fortes do real são os termos de troca –de forma geral, razão entre preços de exportação e importação. Uma medida do Goldman Sachs para essa variável está nas máximas em pelo menos um ano, em alta desde maio e mostrando disparada depois de agosto, quando maciças injeções de liquidez por bancos centrais no mundo turbinaram os preços das commodities.

A alta das matérias-primas melhora os termos de troca do Brasil e beneficia o real, já que o país é exportador desses insumos. As commodities estão nos picos desde o começo de março.

Depois de um período de quebra, a correlação entre o real e as matérias-primas voltou a ficar positiva, indicativo de que um contínuo movimento de alta nas commodities –num cenário de retomada global da economia e de sobra de liquidez– pode alavancar também a moeda brasileira.

A “pedra no sapato” da taxa de câmbio brasileira segue a questão fiscal, segundo Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital. “A parte política ainda pega. Adoraria dizer que está tudo bem, que estão fazendo as coisas certas, mas não estão”, avaliou.

Ainda assim, ele pondera que o real tem espaço para ganhos, com potencial de 70% a 80% da valorização ser ditada por fatores externos. “Uma taxa de 5,10 reais no começo do ano seria factível”, disse.

O mercado pode se tornar muito otimista no primeiro semestre de 2021 se a incerteza fiscal diminuir (ainda que temporariamente), se a economia global se recuperar e se os riscos relacionados à Covid-19 forem reduzidos.